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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA COM JOSÉ GOLDEMBERG 22/10/09

Essa Entrevista faz tempo sim,mas acho que ainda serve para poder mostrar algumas coisas.
Ela é clara e objetiva. E não é longa. Vai ajudar você a entender mais coisas e se posicionar melhor sobre assuntos ambientais. Certo? =*


A coluna 5x Petróleo desta semana traz o professor e físico da Universidade de São Paulo (USP), José Goldemberg. O professor tem um extenso currículo ligado à área de Meio Ambiente e Ciência. Já foi secretário do Meio Ambiente da Presidência da República e do Estado de São Paulo, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e ministro da Educação do Governo Federal. Foi selecionado pela Time Magazine como um dos treze Heroes of the Environment in the category of Leaders and Visionaries 2007. Goldemberg fala com propriedade sobre as perspectivas do desenvolvimento sustentável para o Brasil.

1) A indústria do petróleo tem sofrido conseqüências pela necessidade da redução das emissões de gases que resultam da queima do petróleo. Por conta disso, tem crescido o número de pesquisas focadas em novas técnicas que minimizem os impactos ambientais, como CCS (captura e armazenamento de carbono). Qual a sua opinião sobre essa técnica? Ela é viável para implantarmos no Brasil?

CCS (captura e armazenamento de carbono) é uma tecnologia que está sendo testada em escala piloto. Só será possível ter uma idéia clara de sua viabilidade após terem sido construídas e testadas várias delas. As indicações que existem custarão caro e, portanto vão encarecer a eletricidade produzida do carvão ao menos 30% a 50%. Problemas ambientais inesperados também poderão ocorrer.

2) De acordo com o levantamento da FGV apresentado recentemente, a Petrobras foi à empresa que mais emitiu gases de efeito estufa no ano passado: 51 milhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde a 59% do total inventariado pela Fundação. A pesquisa surge em um momento polêmico, no qual o aumento de emissões por conta da extração de petróleo na camada pré-sal tem sido constantemente mencionado. Como o senhor vê esse fato?

As emissões brasileiras de CO2 vão aumentar com a extração de petróleo do pré-sal, porque há dissolvido nele ao menos 20% de CO2. Por conseguinte, esta linha de ação vai no sentido contrário da redução de emissões do país que, entretanto, poderia ser compensada pela redução do desmatamento da Amazônia ou por reflorestamento.

3) As principais fontes de emissão das petrolíferas são provenientes da atividade de produção e refino de petróleo, plataformas de extração, além das usinas termelétricas e produção de fertilizantes. Uma das medidas usadas pela Petrobras para redução de emissões é a reinjeção desse gás nos próprios reservatórios de petróleo com o objetivo não só de armazenamento, mas também de potencialmente aumentar o rendimento produtivo desses campos. Outras opções em análise são o armazenamento do dióxido de carbono em reservatórios com aqüíferos salinos sob o fundo do mar. Essas alternativas são válidas?

Todas essas alternativas são válidas, mas ainda, muito caras. Além disso, será preciso avaliar a economicidade da extração de petróleo do pré-sal além do enorme custo de retirar petróleo de grandes profundidades. O custo estimado da abertura de cada poço é de 100 a 500 milhões de dólares e a taxa de sucesso não será provavelmente muito alta.

4) O senhor afirmou que na reunião da ONU, em Copenhague, poderão ser definidas regras mais rígidas para o uso de combustíveis fósseis. O Brasil ainda não tem propostas fechadas para as fontes de financiamento para redução das emissões, isso vai prejudicar o país em que sentido?

O Governo Federal pretende apresentar propostas concretas de reduções em Copenhague, mas ainda não o fez. Com isto, perdeu a liderança que no momento está com a China, país que já anunciou que pretende apresentar propostas muito interessantes.

5) O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defendeu recentemente em Brasília, o congelamento, até 2020, da emissão de gás carbônico brasileiro, sem prejudicar o crescimento do país a uma taxa de até 4% de avanço na economia. O senhor acredita nessa medida?

Sim. É possível ao país crescer 4% na sua economia e até 6% sem aumentar suas emissões de carbono desde que adote um desenvolvimento tecnológico moderno mais eficiente e que contenham um grande conteúdo de energias renováveis que é, aliás, a tradição brasileira com suas hidroelétricas.